Mês: abril 2020

Corrupção, Ética & Sonhadores

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No próximo dia 2 de maio, os brasileiros poderão comemorar, ou melhor, dedicar parte do seu dia, para refletir sobre questões críticas pelas quais passa a humanidade e, especialmente, o país, no tocante aos assuntos da ética. Isto porque o dia 2 de maio é considerado o Dia Nacional da Ética.

Da minha parte, na verdade, deve ser mesmo uma data a ser comemorada, não pelo atual quadro nacional que ora está em nossa frente, mas pela teimosia obstinada de alguns sonhadores (será isso uma doença?) em sua cruzada por uma nação onde as relações de ordem política, corporativa e tantas outras de ordem social sejam pautadas à luz da ética.

Pessoalmente, e junto com cerca de setenta profissionais do país, de vários segmentos, estive envolvido com a elaboração da norma antissuborno, publicada pela ABNT. Estava lá, o Carlos Santarem, em várias reuniões, muitas delas na modalidade de web conferência, com  outros tantos, de outros estados, debatendo sobre a norma, tomando ciência de como estava o andamento da elaboração da versão de cada país envolvido e vivendo sua participação em um momento no qual eu considerava muito importante para mim e para a minha empresa.

Ora, se não sou filósofo, tenho autoridade para falar sobre ética? Sim, cada um de nós, como animal social, não somente pode, como deve e tem de debater esse assunto!

Ora, se não sou advogado, tenho autoridade para falar sobre leis? Sim, e com todo o respeito aos meus queridos e imprescindíveis amigos do Direito, costumo dizer em meus cursos que “as leis, não são feitas por advogados, nem feitas para eles. As leis são feitas por cidadãos que nos representam e para todos os cidadãos, incluindo-se aí os advogados, farmacêuticos, jornalistas, engenheiros, aposentados, enfim, todos nós”.

Uma das posições que assumi na época de debates sobre a elaboração da norma foi a de defender um termo que, acredito, é mais importante do que o termo “ilegal”, quando tratamos de suborno. O termo de minha escolha é “delito”. Quem nos garantiria que, com o andar da carruagem, por lei, fosse determinado suborno, não o ato em si, mas um teto a ser considerado? O “legal”, historicamente, muitas vezes mostra-se verdadeiramente imoral.

Temos todos de falar de ética e, o que mais me impressionou na época, foi assistir dezenas de profissionais de várias organizações, privadas e estatais, vibrando como homens e mulheres apaixonados pelo tema e acreditando estar fazendo algo pela sociedade.

Infelizmente, um ponto em comum tinha de ser colocado logo no início das reuniões. Ponto esse que foi colocado em consenso entre todos os profissionais que estavam a elaborar a respectiva norma em todos os países onde vemos a ISO: a constatação de que nunca a sociedade poderia banir, de todo, a corrupção de nossos meios.

Assim, na elaboração da norma, iniciamos uma guerra a qual tínhamos (e temos) a consciência de que o inimigo não sucumbirá a nossos pés. O inimigo que circula, como um vírus, em nosso corpo, através de nossa corrente sanguínea, sempre encontrará um vaso de escape e uma célula para atacar e contaminar.

Loucura então a elaboração de uma norma assim? Uma norma sem caráter compulsório, sem força de lei que, ao invés de ser adotada pelas empresas e pelos governos pode ficar esquecida e empoeirada nas prateleiras da ABNT?

Sim, loucura! Loucura de sonhadores Dom Quixotes que não estão isolados, uma vez que esta teimosia pela ética é mesmo uma doença, mostrando-se, hoje em dia, extremamente contagiosa entre os brasileiros. Uma teimosia ética, na forma de anticorpos que poderão fazer com que o mal da corrupção possa ficar sob um controle razoável e, quem sabe amanhã, com a descoberta de um “novo remédio” (eu e a minha mania de farmacêutico) ser expelido pelos intestinos da sociedade.

Assim seja!


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O trabalho “Corrupção, Ética & Sonhadores” de Carlos Santarem está licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.

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Apesar da sua idade…

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Estava eu sentado na sala da presidência de uma multinacional farmacêutica, em frente ao seu jovem e competente presidente, tendo, ao lado, uma profissional de uma conceituada empresa de consultoria e seleção. Naquela época, eu ainda não havia chegado aos 50 anos.

Estávamos reunidos seguindo um ritual de avaliação de resultados do nível gerencial, quando eu receberia o feedback do meu trabalho. Somente eu, o presidente e ela.

Foi exatamente assim que ela iniciou: “Santarem, apesar da sua idade…

Ao ouvir tais palavras, a projeção de todos os eventos da minha vida profissional começou a aparecer na minha frente. Via meus momentos de aprendizado, minhas batalhas corporativas, minhas vitórias e as minhas derrotas também (não foram poucas). A imagem de centenas de sorrisos de ex-alunos de pós-graduação, hoje profissionais muito bem colocados no mercado de trabalho, derramavam-se na minha frente, também em projeção.

“Santarem, apesar da sua idade…”. A frase ainda reverberava por todo o meu corpo. As ondas sonoras de cada palavra, emitida por aquela voz agradável, me corroíam por dentro como um veneno.

Eu não podia mais ouvir, depois daquelas palavras, muito do que era dito a meu respeito e a respeito do meu trabalho, avaliado por aquela profissional. Não podia. Eu me sentia em um túnel escuro, com a minha vida profissional passando pela minha frente, enxergando uma luz branca e forte na minha frente.

“Pronto; morri!…”

O fato é que, resistindo a falta de tato e de profissionalismo daquela pessoa, usei de todas as minhas forças para voltar, de fato àquela reunião. De fato, porque, apesar de estar sentado junto com eles, meu espírito tinha mergulhado e navegado por caminhos distantes, virtualmente. Voltei.

Voltei daquele transe, certo de que o “apesar da sua idade” tinha uma conotação preconceituosa; o preconceito do “Velho”. Voltei certo de que a educação familiar que tive, não me permitiria ser grosseiro. Voltei certo de que atitudes corporativas tem de ser seguidas à luz de códigos de conduta que eu sempre respeitei.

Voltei e, o mais importante era que eu estava lá de novo e poderia ouvir o restante da avaliação.

Resumo da história? “Apesar da minha idade”, eu estava entre os gerentes que obtiveram o “mais alto grau de avaliação”.

Nada tenho a discordar do termo “Velho”. O velho aqui (eu) está extremamente ativo (até mesmo por necessidade); minha filha do meio me colocou o apelido de velho e, quando ela me chama, a carga desse apelido vem impregnada de um amor e um carinho maravilhoso! O ser velho, me permitiu curtir uma neta linda e maravilhosa que me ensinou outro termo gostoso de se ouvir para muitos velhos: “Vovô”.

Ficar velhos, ficaremos todos. Não podemos ser, no entanto, como sabiamente fala um dos meus filhos, “Dinossauros corporativos”. Não podemos ficar desatualizados. Ao escrever este texto, após digitar o termo “curtir”, o corretor do Word recomendou-me substituir por “apreciar” (!!). Não! Não vou substituir! (Caro Word, você está desatualizado!). Trabalhos existem sobre tais “dinossauros corporativos” mostrando que suas atitudes não têm, necessariamente, a ver com a idade.

Por outro lado, não podemos ser preconceituosos. Conviver felizes com o inconformismo e com a sabedoria daqueles com menos idade, é como beber da fonte da eterna juventude. Daí, eu gostar tanto de dar aulas (a maioria dos meus alunos nem imagina que eu aprendo, em classe, tanto quanto eles!).

“Santarem… apesar da sua idade…”, naquela época me deixou atordoado…

Faço programas de treinamento corporativo em grandes empresas, com eventos e turmas que ora se iniciam às 4:00 da manhã, com turmas que seguem no mesmo dia. Em alguns dias outras se iniciam por volta de 1:00 da manhã!

Recentemente, ao realizar um exame intensivo de capacidade pulmonar, a médica me disse, “Olha, quando chegar na sua idade, eu quero ter a mesma força…”

Repararam? “Quando chegar na minha idade”…

A experiência dos anos, nos ensina que, na verdade, não existe nenhuma dose de ofensa em tais palavras, muito pelo contrário.

Quando estava com cerca de 40 anos, a minha filha caçula me disse que eu era velho. Estava correto. Eu estava envelhecendo. Mas quando um deles me perguntou: “Papai como era no seu tempo?” Eu respondi, como era no passado, porque o meu tempo é agora…

…E pretendo ouvir, muitas e muitas vezes, “Santarem, apesar da sua idade…


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O trabalho “Apesar da sua idade…” de Carlos Santarem está licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.

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“Zoom” ou “Boom”? Cuidado com os fornecedores!

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10/04/2020

Em alguns dicionários já encontramos a palavra “zoom”. Mostra a seguinte definição: “Palavra inglesa que significa mover com rapidez e suavidade”; e quando falamos de “dar zoom”, significa, aproximar ou ampliar uma imagem.

Os dicionários não nos avisam, é lógico, que mover-se com rapidez e agilidade não significa, necessariamente, que essa ação será feita com a devida segurança. Ele, o dicionário, não nos mostra que “dar zoom” pode ser uma aproximação indevida aos nossos dados pessoais e corporativos.

Isso pode ter acontecido com a “Zoom”, uma plataforma de comunicação que rapidamente conquistou alguns setores e rapidamente contaminou ambientes virtuais, espalhando “bytes” de maldade, engendrada por “hackers” maliciosos e interesseiros. Rapidamente, chegou aos computadores corporativos e pessoais de muitos profissionais, em todo o mundo, causando danos, alguns deles que nem sequer, ainda, foram detectados.

Fornecedor de serviço não confiável, dados mentirosos quanto a criptografia, falta de segurança das informações, roubo de dados dos clientes. Tudo isso por falta de conhecimento sobre o serviço oferecido e que foram repassados para os usuários. Mais ainda, acesso em “real time” durante as reuniões, inclusive com inserções de mensagens.

Ainda há muito que aprender, no tocante aos nossos serviços pela rede. Nossos fornecedores podem ter “outros clientes” que os remuneram bem para obter nossos dados pessoais, as informações de nossas empresas e as senhas de acesso de ambientes que pensamos protegidos. Ou podem permitir, involuntariamente, que, durante as suas operações, “hackers” naveguem com segurança, criando estragos em nossa vida pessoal e profissional.

Os dicionários também mostram a palavra “boom”. Seu significado: Algo que surge como a explosão de uma bomba e é impossível de ser contido, pois chega sem aviso prévio”.

No caso especial desta matéria, a relação entre as duas palavras chega a ser chocante e nos alerta, mais uma vez, no sentido de nossa responsabilidade, quando utilizamos serviços de terceiros e os oferecemos aos nossos clientes; hoje, mais do que nunca, principalmente, quando tratamos de integridade de dados e segurança da informação. Difícil, não? Mas se não cuidarmos disso, quem o fará!?


Acompanhe o caso – Referências:

Anvisa proíbe uso do app zoom por problemas de segurança – 06/04/2020

Zoom 5.0 é anunciado com melhorias de segurança e privacidade – 22/04/2020

Ministério da Justiça investiga uso de dados pelo app Zoom, febre na quarentena – 28/04/2020

Meio milhão de credenciais do Zoom estão à venda na deep web – 04/05/2020

Zoom adquire a Keybase, empresa especializada em identidade digital e criptografia – 08/05/2020

Zoom promete seu primeiro relatório de transparência ainda este ano – 02/07/2020

Segurança do zoom: 100 novos recursos mais tarde, você pode confiar no zoom? – 02/07/2020   ***   “O Zoom acaba de atualizar seu progresso de segurança desde o início da pandemia de coronavírus, e sua base de usuários aumentou em milhões. 100 novos recursos e 90 dias depois, você pode finalmente confiar no Zoom?”

Zoom e Johnson & Johnson como “cases” de gestão da qualidade – 20/07/2020

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O tempo de atenção de um adulto está mudando…

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Este artigo é construído sobre um artigo meu (“O tempo de atenção de um adulto”) e está também baseado em minhas observações a respeito de treinamentos corporativos. Assim, antes de qualquer coisa, não está carregado de embasamentos de cunho científico consagrado, mas impregnado, apenas, de uma experiência profissional de décadas em treinamentos de adulto, tanto em turmas de pós-graduação, como em eventos de capacitação realizados em empresas de vários segmentos.

Alguns estudiosos questionam sobre o tempo limite de concentração de um adulto em determinado tópico. Podem existir muitos números diferentes, mas, o mais importante, é a discussão em si deste tema e como podemos extrair dele os benefícios em treinamentos.

Mais importante ainda é esse assunto, quando os exercícios ocorrem dentro da empresa, em um cenário no qual as urgências chegam quase que a toda hora; os celulares enviam mensagens de textos para os participantes, tentando sequestrá-los dos treinamentos, em nome de assuntos críticos.

Alguns estudos dizem que o tempo médio de retenção de conteúdo para um adulto normal é de 7-12 minutos. Saber trabalhar com esse tempo, alternando as ferramentas de acordo com este “lead-time”, ao mesmo tempo em que estimulando o pensamento crítico e a discussão, pode permitir ao Instrutor elaborar treinamentos densos, dinâmicos, agradáveis e em cargas horárias mais reduzidas do que as habituais. Essa técnica está intimamente associada à metodologia andragógica.

Acontece que hoje novos entrantes se apresentam como colaboradores. Podemos identificá-los com o perfil de uma nova geração que passa a ocupar espaço nas operações e também em cargos de liderança. Tais colaboradores, de uma nova geração, pensam diferente? Tem interesses diferentes? O tempo de retenção de conteúdo para essa geração pode ser considerado o mesmo?

Frente a tais questões, temos de repensar nossos treinamentos e adequá-los a uma nova situação. Até para reter os valores!

Sabemos que gerações de indivíduos têm suas características próprias e até são nominadas por estudiosos. Não faltam nomes; “Baby Boom”, X, Y ou Z, entre outros. Cada uma delas, tem como referência o ano de nascimento da pessoa e, apesar dessa data não ser consenso em muitos trabalhos, nos dá uma ideia global do perfil de cada geração.

A “Geração Y”, que engloba os sujeitos nascidos por volta de 1990 tem atributos próprios. Novas tecnologias não a assustam, muito pelo contrário, e a busca por informação imediata e útil, é uma constante em sua rotina, além de outras características.

É exatamente focando nessa questão que proponho um repensar sobre o tempo de retenção do adulto, quando elaboramos, ou revisamos, treinamentos. Pode ser que não mais seja de 7 a 12 minutos, do meu ponto de vista. Pode ser que tenha caído vertiginosamente! Será? Eu estimo ciclos de 3 a 8 minutos.

Ainda não tenho respostas bem consolidadas, mas tenho feito treinamentos em grandes empresas utilizando essa nova forma de enxergar o aprendizado de adultos e as avaliações de reação têm se mostrado muito boas. Os resultados, em termos de fixação de conteúdo, têm sido positivos.

Enquanto isso, penso que temos de nos preparar para uma nova fase, uma vez que a “Geração Z” já chega às empresas com as suas expectativas e seu modo (diferente) de encarar a vida, o trabalho e o emprego.

Em outras palavras, bons treinamentos têm de ser preparados para audiências heterogêneas e levando em conta também os diferentes perfis das gerações.


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O trabalho “O tempo de atenção de um adulto está mudando…” de Carlos Santarem está licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.

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