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30/08/2020
“O que não é medido não é gerenciado”, assim dizia Deming e é assim que conduzimos todos os processos que merecem, pela sua criticidade, ser conduzidos à luz das Boas Práticas. Podemos, através das medições, ter uma ideia de cenários, verificar tendências e identificar desvios que podem significar, inclusive, não conformidades.
Com medições temos dados e, dessa maneira, podemos ter evidências do que está a acontecer. Caso contrário, lembrando Deming, “Sem dados você é apenas mais uma pessoa com uma opinião.”
Aí mora o primeiro risco: Pode haver aquilo que as pessoas chamam de medição, porém, se os dados gerados são incompatíveis com a realidade que está sendo medida, temos um ambiente de ignorância (quando não de má-fé) que pode nos levar a decisões erradas, danos e prejuízos.
Eu temo que esteja acontecendo exatamente isso (medições erradas), quando adentramos em estabelecimentos comerciais e somos obrigados a parar na entrada para verificarmos nossa temperatura, através de aparelhinhos digitais. Isso porque sabemos que a temperatura normal do corpo humano deve apresentar-se entre 36,5 a 37,5 °C, ao mesmo tempo em que temos tido notícias de que muitas pessoas tomam ciência que os registros de tais aparelhinhos mostram suas temperaturas corporais abaixo de tais limites.
Pelo menos comigo aconteceu mais de uma vez. Sexta-feira fui ao supermercado e descobri que minha temperatura marcava 34,6°C e a temperatura da minha esposa 33,3°C. Poderia eu esperar que minha esposa, com tal temperatura corporal, pudesse apresentar sonolência, prostração e podendo até ficar inconsciente. Poderia ela, com 33,3°C, ter problemas de memória e até de fala, pela hipotermia que estava a sofrer como indicado pelo aparelhinho de medição! No entanto, ativa, circulava pelos corredores do supermercado com desenvoltura, tinha a lista de compras de memória (coisa impossível para mim!) e suas palavras corriam com lógica e sabedoria!
Quanto a mim? Não dei a mínima confiança para o que dizia o aparelhinho. Ou pior, interpretei a leitura como : “Pode entrar sem medo, estou calibrado para liberar todo mundo!”. Não asseguro, mas, convenhamos, esta é a projeção razoável que tais medições no comércio estão a gerar, para qualquer cidadão esclarecido.
Aí mora o segundo risco: quando as medições feitas não são respeitadas porque têm uma história de erros. Uma história de calibrações que assegurem dados não fidedignos!
Esta situação nos leva a uma consideração importante, no tocante às medições: aquelas pessoas que fazem as medições estão cientes da razão do controle? Elas conhecem os limites aceitáveis de tolerância? Elas sabem quais atitudes tomar nos casos de limites fora dos parâmetros?
Houvesse a exigência de se registar as temperaturas obtidas (não estou pedindo isso) e veríamos que grande parte dos consumidores está a sofrer de hipotermia. Será um dos sintomas do Covid-19!?
Agora, por outro lado da questão, é certo que não há necessidade nenhuma de mudar. Podemos continuar assim, fazendo fila para constatarmos uma hipotermia que não existe, somente para fantasiarmos um falso controle. Aliás, lembrando Deming, de novo: “Não é preciso mudar. A sobrevivência não é obrigatória”.
O trabalho “A crise de hipotermia no comércio ou…Quando as medições não correspondem à realidade.” de Carlos Santarem está licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
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