Categoria: Qualidade & Ética

BPF – Como está a sua empresa?


BPF – Como está a sua empresa?



O teste a seguir, de maneira proposital, não se associa a qualquer normativa de BPF e suas versões. O foco é, independentemente das recomendações e exigências, traçar um perfil das empresas e de seus líderes quanto às suas políticas e posturas frente ao universo das Boas Práticas.
No recolhimento de sua sala, ou aberto para debate exclusivamente com a sua equipe, cada pergunta se abre, como um estímulo para um repensar sobre alguns cenários e sobre possibilidades de mudanças significativas.
Marque as respostas mais adequadas do seu ponto de vista e, depois, clique no botão “Calcular pontuação”. Veja a interpretação do teste em função do resultado numérico obtido.



1. Existe uma preocupação generalizada em informar a todos os gerentes e coordenadores das áreas, de maneira discreta e urgente, a chegada de visitantes e de inspetores?
sempre freqüentemente às vezes nunca
2. Algumas operações são literalmente suspensas na presença de visitantes e inspetores?
sempre freqüentemente às vezes nunca
3. Cria-se um ambiente tenso quanto ao que pode ser constatado em uma visita de clientes ou inspeção governamental, principalmente da parte da alta liderança da empresa?
sempre freqüentemente às vezes nunca
4. Líderes de linha, operadores, manipuladores, auxiliares e outros colaboradores ficam “sem saber o que fazer” ou “qual a melhor forma de fazer” quando são observados por visitantes ou inspetores?
sempre freqüentemente às vezes nunca
5. Na rotina, seus colaboradores costumam descumprir aqueles procedimentos que não consideram “tão importantes” (como fluxo de pessoal e de materiais, uso de EPI, uso de acessórios de higiene, por exemplo) cuidando de não os esquecer nos momentos de visita ou de inspeções?
sempre freqüentemente às vezes nunca
6. Seus colaboradores participam dos treinamentos como sendo atividades sem valor e que “prejudicam” as suas responsabilidades diárias?
sempre freqüentemente às vezes nunca
7. Existe a possibilidade de um inspetor do governo constatar mais de uma operação sendo executada de forma incompatível com o prescrito em procedimento operacional e/ou em instrução específica?
sempre freqüentemente às vezes nunca
8. Na rotina, os desvios da qualidade são tratados de forma burocrática, através da simples elaboração de relatórios que poderão ser exigidos em inspeções futuras?
sempre freqüentemente às vezes nunca
9. Existe a tendência de manipular resultados dos laudos analíticos e de outros documentos técnicos, no sentido de adequá-los aos parâmetros de qualidade?
sempre freqüentemente às vezes nunca
10. As lideranças consideram as auditorias internas (auto inspeções) como uma atividade atrapalhadora?
sempre freqüentemente às vezes nunca




Clique no botão abaixo para obter a soma dos pontos e veja em qual interpretação se enquadra a empresa.
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A interpretação
Até 7 pontos: BOA
A empresa busca atender as Normas de Boas Práticas e, provavelmente, tem em seu planejamento estratégico o caminho da excelência.
Suas lideranças, seus técnicos e demais colaboradores estão cientes de suas responsabilidades com os acionistas, clientes e consumidores (usuários de seus produtos e serviços).
Existe um Sistema da Qualidade estruturado com visão na capacitação constante de suas equipes e na melhoria contínua dos processos.

De Entre 8 a 29 pontos: REGULAR
A empresa pode estar em uma fase de mudança na qual identifica a urgência e os benefícios de se trabalhar de acordo com as BPF.
Muitos de seus líderes e técnicos, nem todos, estão dedicados a promover as muitas mudanças e as melhorias necessárias, mesmo que os recursos disponíveis não sejam os ideais.
Existe um Sistema da Qualidade, ainda debilitado, que se empenha em fortalecer a visão na capacitação constante de suas equipes e na melhoria contínua dos processos.

Acima de 30: FRACA
É possível que a empresa esteja sofrendo com os resultados de inspeções passadas e ainda tema por inspeções futuras de seus clientes ou de inspetores do governo.
Caso não esteja vivendo esta situação, a empresa reconhece que a “capa” (a imagem) de empresa que atende as normas está fragilizada e o retrato verdadeiro pode ser descortinado a qualquer momento, prejudicando os negócios.
Suas lideranças, seus técnicos e demais colaboradores são vistos apenas como cumpridores de ordens e de planejamento de vendas.
Pode até existir um departamento da qualidade na companhia, mas, na rotina, não tem interesse ou poder para efetuar as mudanças necessárias.

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Veja mais

O desvio da cerveja e o indício bem fundamentado

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Obstinação e técnica salvando vidas

O motivo que levou a polícia a iniciar a investigação do mistério de danos à saúde pública e até caso de óbito pela cerveja contaminada, foi a intervenção de duas mulheres, Flávia Schayer e Camila Massardi, no âmago da questão. As duas com seus maridos hospitalizados e uma delas com seu pai levado à morte pelo dietilenoglicol.

Continuo tratando este assunto como um estudo de caso interessante no tocante à análise e tratamento de desvios da qualidade. O objetivo é estimular um pensar sobre a questão do ponto de vista sempre associado aos aspectos da garantia da qualidade.

Mexa-se, imediatamente

Na busca pelas razões do problema, a obstinação é uma postura que deve ser levada em conta quando estamos diante de casos de desvio da qualidade.

Quanto mais cedo tratarmos a questão do desvio, mais informações podem ser recolhidas para análise. Quanto mais nos aproximarmos daqueles envolvidos com o problema, independentemente de sua escolaridade, mais visões diferentes teremos sobre a mesma questão, facilitando a identificação dos indícios. Em outras palavras, um grupo de renomados especialistas em análise de desvio da qualidade em nenhuma hipótese pode desprezar uma opinião de um operador de máquina ou manipulador; se assim fizer, pode perder dados importantíssimos.

Desta forma fizeram as mulheres, facilitadas pela academia de uma delas, a Farmácia. Camila a farmacêutica, chegou até a Flávia e as duas iniciaram o processo investigativo.

Utilizaram um trabalho, a princípio, com duas ferramentas da qualidade. A saber, o “Brainstorming” e a “Coleta de dados”. Esteja eu errado quanto ao que aconteceu verdadeiramente, exploremos o assunto tão somente do ponto de vista do emprego das ferramentas.  Elas, provavelmente, muito debateram sobre o assunto (“Brainstorming”) e foram a campo por mais informações (“Coleta de dados”)!

A importância dos grupos multidisciplinares

Quando trabalhamos com grupos multidisciplinares na análise e no tratamento de desvios da qualidade, somamos forças com diferentes experiências. Isso confere ao grupo uma capacidade maior no trabalho. Em uma indústria de medicamentos, por exemplo, farmacêuticos, químicos, engenheiros são comuns em grupos de análise com excelentes resultados.

Isso, de certa forma, aconteceu no caso da cerveja e no levantamento do indício. Não foi a farmacêutica que fez uma das perguntas-chaves, em uma conversa com um parente de uma das vítimas. Foi a sua companheira de busca, a Flávia, que com apenas uma pergunta levantou uma hipótese crucial: “Ele tomou a Belorizontina?”.

Estudar os indícios

Correr com preenchimento de formulários de não-conformidades, com a indicação de causa raiz e propostas de ações, é algo não tão incomum. Isso porque, além de prazos bem determinados para a apresentação dos formulários, a pressão interna para a solução do problema não é pequena.  Temos de ser rápidos, mas efetivos.  Caso contrário, além de ver o desvio da qualidade acontecer novamente, vemos a nossa reputação como especialistas “ir para o buraco”!

Ao indicarmos um indício temos de ter referências cabíveis. Ao indicarmos não-conformidades temos de ter evidências objetivas (provas).

No caso da cerveja, foi exatamente estudando com seriedade a relação dos sintomas e a “coincidência Belorizontina”, que fez com que a farmacêutica pudesse levar para a polícia, logo de início, um alarme com fortes indícios de que o problema pudesse estar na cerveja.

É certo que a causa raiz, como assim chamamos a verdadeira causa que provocou o desvio da qualidade, ainda não foi descoberta. É certo que não é pequeno o número de variáveis que se apresenta para dificultar a resolução do problema, mas a qualidade de nossos técnicos, investigadores e de nossa polícia técnica chegará, com certeza, até a fonte que deu origem à não conformidade.

É certo que muitas vidas foram salvas por essas mulheres.

É certo também que um correta análise e tratamento de desvios não tem preço; tem valor, às vezes, pelo seu peso, muito difícil de ser medido.


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O trabalho “O desvio da cerveja e o indício bem fundamentado” de Carlos Santarem está licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.

Veja o artigo “Cerveja não mata; o que mata é o desvio!

Saiba mais:

Contaminação da cerveja: Fantástico entra na Backer, responsável pela fabricação da bebida

Anvisa interdita todas cervejas produzidas pela Backer

Cerveja não mata; o que mata é o desvio!


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Veja mais

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Água contaminada: no desvio, a culpa é do mordomo

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As questões de contaminação da água exigem cuidados sérios, análises bem conduzidas das não conformidades no sentido de identificar, com clareza, a causa raiz dos desvios da qualidade, além, é claro, de medidas preventivas e corretivas eficazes.

Registro isso com certa experiência, uma vez que, como farmacêutico atuante em indústria, eu já fui o responsável direto pela produção de água para injetáveis de duas grandes companhias produtoras de medicamentos. Refiro-me à Merck S.A. Indústrias Químicas e na Roche Brasil.

Para quem não é da área de produção de medicamentos, a água para injetáveis tem especificações de qualidade bem diferentes e mais exigentes do que a água potável. Um produto injetável, com uma água contaminada que chega ao consumidor, tem uma ação tão rápida e devastadora, provocando consequências danosas, muitas vezes, imediatas! Daí, exigir em sua produção uma série de controles em processo e atitudes de boas práticas que busquem eliminar os riscos da presença de qualquer ataque de microrganismos ou endotoxinas. Importante dizer que para se obter uma boa água para injetáveis, temos de iniciar nossas operações trabalhando com a água potável em níveis de qualidade aceitáveis.

Apenas à título de pintar com cores mais fortes a importância de uma água para injetáveis, costumava falar para as minhas equipes de produção, falo hoje para meus alunos de pós-graduação e o mesmo faço em treinamentos corporativos:  quando um medicamento injetável está contaminado, dificilmente o usuário faz uma reclamação à empresa… Normalmente, é a viúva…

Tratar os desvios da qualidade em água, da potável e da injetável, exige academia, mas exige também responsabilidade. Identificar a causa raiz dos desvios é uma ação de extrema importância.

Vale ressaltar que uma água potável contaminada, entre os muitos problemas, pode causar diarreias em crianças e levá-las à morte! Em relatório publicado pela OMS, intitulado “Inheriting a Sustainable World: Atlas on Children’s Health and the Environment”, os números são impressionantes. “361 mil crianças com menos de 5 anos morrem por diarreia, como resultado da falta de acesso à água potável, saneamento e higiene”.

No tocante à água potável servida no Rio de Janeiro e a sua crise mais acentuada em 2020 existe, aparentemente, um despreparo na análise e tratamento do desvio da qualidade associado a um cenário no qual a verdade é dissimulada pelo poder público com a impressão de que, na melhor das hipóteses e com “a melhor das intenções” não se pretende alarmar a população. Pode ser uma impressão errada, mas é o que se projeta.

Curioso é que, diante de um copo com água turva e mal cheirosa, ouvindo os especialistas e políticos se referirem a essa água como “segura”, qualquer cidadão, com um grau mínimo de discernimento, não somente fica alarmado com a água como também se assusta com o grau de confiança que pode depositar naqueles responsáveis pelo tratamento do problema. Na própria página da CEDAE, em 18 de janeiro de 2020, não há com o quê o carioca tenha que se preocupar, visto que a “água fornecida está dentro dos parâmetros exigidos pelo Ministério da Saúde”.

Vale para qualquer desvio da qualidade que pode afetar o bem-estar e a saúde das pessoas: temos de ser efetivos em nossas análises e a divulgação imediata da informação verdadeira é uma das medidas vitais do processo.

O culpado

Acompanhando as notícias, vemos que o último culpado, indicado pelo problema da água é a geosmina, um composto produzido por cianobactérias. Não! A culpa não é da geosmina, embora uma ação de limpeza com carvão ativado vá melhorar a coloração da água. Não é geosmina que deixa a água turva!

Vale para qualquer desvio da qualidade: quando consideramos erradamente um evento como causa raiz, a reincidência do desvio está assegurada. Em outras palavras, o problema voltará a se repetir. No caso da água, haja carvão ativo, não é verdade? A água ficará clarinha, mas continuará o problema de saúde pública.

Tirar a turbidez da água, mandando encarcerar a geosmina é uma ação perigosa, isto porque a causa raiz não foi identificada(?), nem, muito menos tratada!

Vale para qualquer desvio da qualidade: a resposta mais simples para se resolver um desvio da qualidade é escondê-lo debaixo do tapete, mas também a mais perigosa…

E o cheiro e a turbidez!? De antemão, pedindo perdão pelo termo, é… muita Bosta!

Ah, então a culpa é da Bosta? Não!

Não tem culpa a geosmina, não tem culpa a bosta e não têm culpa as bactérias que podem estar contaminando a água!

Vale para qualquer desvio da qualidade: temos de chegar na verdadeira e desconhecida (?) origem do problema e temos de estar dispostos a investir na sua solução.

E a solução, convenhamos, não é o carvão ativo…


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O que já aprendemos com a má-fé pela fraude

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O acesso fácil ao conteúdo

Existe, na história da indústria farmacêutica, uma infinidade de casos de má-fé que promoveram desgraças e até mortes de consumidores de medicamentos. O acesso fácil do bandido ao conteúdo das embalagens primárias, aquelas que entram em contato direto com o produto, permitiu, por exemplo, a troca de conteúdo e a inserção até mesmo de veneno em cápsulas de medicamento.

Um caso emblemático

Um caso que se tornou famoso é o “caso Tylenol”, ocorrido nos Estados Unidos na década de 80, quando um maníaco entrava nas farmácias, abria alguns cartuchos com cápsulas de Tylenol e substituía o conteúdo das cápsulas, antes com o medicamento, por veneno: o cianeto de potássio. Muitos consumidores morreram, entre eles uma menina em tenra idade.

Os indícios do crime

Análises químicas puderam comprovar que as embalagens contaminadas não mostravam uma contaminação do lote, mas uma contaminação restrita somente a algumas unidades componentes do lote. Indício de fraude (?).

O primeiro aprendizado: A verdade imediata e divulgada pela própria empresa

A Johnson & Johnson, a respeitada empresa farmacêutica fabricante do Tylenol, assumiu de imediato a responsabilidade de, através de seu presidente, manter o público a par de todos os passos da investigação, inclusive aqueles em conjunto com a polícia.

Os fatos chegavam ao público pelo presidente da companhia em declarações pela televisão americana, antes de qualquer notícia de jornal, as quais poderiam ser deturpadas.

Fácil foi a prisão do assassino, visto que seu raio de ação se restringia a uma limitada região nos arredores de Chicago. Preso o bandido, a companhia farmacêutica saiu do episódio com sua reputação mais fortalecida ainda.

O segundo aprendizado: A inviolabilidade das embalagens

As cápsulas comuns permitem que bandidos possam  abri-las, alterando o seu conteúdo! Daí uma evolução no mercado farmacêutico foi o desenvolvimento de cápsulas gelatinosas. As cápsulas gelatinosas, como sabemos, são formas farmacêuticas que não podem ser abertas a não ser por uma violação. Em outras palavras ficam inutilizadas.

No caminho dos cuidados, frascos, tubos e outras embalagens primárias foram recebendo, até mesmo por exigências legais, mecanismo de segurança, como lacres especiais que forçam o bandido a violar claramente a embalagem de uma forma irreversível. Mais ainda, os mecanismos de segurança se estenderam às embalagens secundárias como os cartuchos de medicamentos que também passaram a ter lacres especiais! Em outras palavras, embalagens com mecanismos de proteção contra a má-fé, por fraudes, diminuem sobremaneira as desgraças; embalagens vulneráveis aos bandidos, não.

O terceiro aprendizado: Não conseguiremos deter todos os bandidos

A maldade humana não pode ser subestimada e ela nunca será extirpada do nosso meio. Infelizmente, sempre haverá alguém, em algum lugar, engendrando como levar um veneno para o consumidor, através de nossos produtos.

Daí, quando falamos de boas práticas de fabricação, entendemos que tais práticas devam estar em um sistema da qualidade bem estruturado no qual o gerenciamento de risco vislumbre também as possíveis situações de má-fé.

Isto serve para medicamentos, alimentos e também para bebidas.

Afinal, se nós não pensarmos nisso, quem o fará?

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As evidências objetivas nas auditorias

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Fator crucial em auditorias, as evidências objetivas devem ser buscadas e coletadas pelos auditores de maneira técnica e profissional no sentido de gerar relatórios completos e confiáveis.

Um item apontado como não conforme pode comprometer o resultado final do sistema de qualidade de uma empresa, pode comprometer também pessoas e departamentos. Quando este item não é acompanhado de evidências objetivas, sofre então a reputação do auditor.

A metodologia correta de identificação, separação e organização de tais evidências nos oferece a possibilidade de constatar as observações feitas de forma irrefutável. Para isto alguns cuidados são importantes:

  • Documentos e registros devem ser claramente identificados com a sua versão.
  • Peças e componentes devem ser também referenciados com número de série e/ ou lote.
  • Todas as pessoas contatadas e entrevistadas devem compor uma relação nominal com, no mínimo os seguintes dados: nome, cargo, área, telefone e e-mail corporativo.

Diante de um indício de não conformidade é importante aumentar, se possível, a amplitude da amostragem, através de todas as possibilidades viáveis, com o objetivo de estressar o assunto até a constatação final.
Em casos de dúvida sobre qualquer questão, releia o item do seu relatório e discuta o conjunto de evidências que você recolheu com seus colegas auditores participantes da auditoria. Certifique-se de que elas – as evidências – sejam – sempre – contundentes.


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Coquetel de Más Práticas

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Pela mídia, chega-me a notícia através da Pharmacy News (18 de junho de 2018) que um farmacêutico, mesmo identificando que uma formulação poderia causar danos e até mesmo risco de morte a um paciente, fez e vendeu o preparado. Seu argumento foi de que o médico insistiu que a formulação estava correta. O paciente de 77 anos morreu.

Esta ocorrência nos diz muito. Fato é que, diante de uma situação de risco, podem ser várias as reações que, por sua vez, poderão desenhar cenários dos mais diversos criando ambientes de sucesso ou de fracasso contundentes que arrasam reputações e causam prejuízos em todas as direções. Muitas vezes causam mortes de terceiros inocentes. Mais: muitos talvez já tenham morrido por decisões erradas e nem sequer tenhamos sabido.

Um dos aspectos interessantes, do ponto de vista, exclusivamente, da gestão da qualidade é a postura de passar para outro elo da cadeia decisória uma decisão a qual o indivíduo está plenamente habilitado para julgar e tem experiência de sobra para fazê-lo. Só não o faz por medo de possíveis represálias corporativas, por negligência ou irresponsabilidade. Nunca por desconhecimento.  Reforço que é exclusivamente apenas sob a ótica da gestão. Fizesse eu esta análise do ponto de vista ético, o assunto receberia outras cores mais densas.

Aí cabe uma pergunta: permitimos que os membros de nossa organização fiquem à vontade para decidir aquilo que é de seu conhecimento e de sua competência ou as questões das “ilhas de poder” se sobrepõem acima de tudo, arriscando a empresa e seus acionistas, em nome de grupos politicamente mais influentes? Onde existem “ilhas de poder”, “existem bunkers” e, o que é pior, existe um conjunto de tiranas leis, diferentes daquelas declaradas na missão da companhia.

Quando vemos a falta de atitudes corretas fazendo com que decisões sejam empurradas com a barriga para outro elo da cadeia, o diagnóstico mais apurado nos mostra que não é somente o indivíduo que está contaminado, mas todo o meio no qual ele transita, provavelmente. As ações corretivas e preventivas têm de considerar este aspecto.

Medo, negligência e irresponsabilidade podem estar juntos, ao mesmo tempo, em um verdadeiro e perigoso coquetel de más práticas.

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Eu preciso falar!

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15/09/2009

O relato imediato de possíveis interferências na qualidade.

Relatando as interferências de forma voluntária

Um sistema da qualidade realmente efetivo deve estimular seus colaboradores a comunicar às suas chefias imediatas, quaisquer situações de risco que possam interferir adversamente nos produtos ou na imagem da empresa. Isto de maneira voluntária.

Poderosos alarmes

Os relatos voluntários de tais eventos funcionam como poderosos alarmes. Operações interrompidas, em momentos exatos, por colaboradores dedicados e cautelosos podem evitar eventos de real perigo ou de evidente risco futuro para os consumidores, por exemplo.

Testemunho

Eu mesmo, como responsável de uma área de produção de comprimidos em uma indústria farmacêutica fui pessoalmente beneficiado com uma postura proativa de um colaborador que interrompeu o processo e buscou alertar-me, de imediato, a respeito de um caso de desvio da qualidade. Na ocasião, ele apontava para uma barrica aberta contendo uma matéria-prima a ser usada em um de nossos lotes. Na barrica, o conjunto de etiquetas indicava um conteúdo com todas as informações imprescindíveis para o seu uso. “Olhe, não é ela!” me disse, enfaticamente, o manipulador.

Eu que já havia reparado que a barrica estava íntegra e devidamente identificada, olhei para aquele pó. A cor, a granulometria e outras características que pude verificar com o meu olhar não garantiam que o meu funcionário estava com razão. Por outro lado, os registros das etiquetas diziam que o conteúdo da barrica era exatamente a matéria-prima que solicitamos para a produção do medicamento.

“Olhe, não é ela!” repetiu meu colaborador com sua experiência de décadas em fabricação de medicamentos. Sem alongar este texto com toda a conversa que mantive com o funcionário, decidi desprezar as etiquetas, suspender a fabricação e solicitar a intervenção do laboratório de controle da qualidade.

O laboratório constatou que o conteúdo da barrica não era aquele indicado na etiqueta! As investigações concluíram com evidências objetivas que as etiquetas foram trocadas na Central de Pesagem!

Um alarme no momento exato, evitou perdas para a empresa e evitou possíveis dores de cabeça futuras para mim!

As pressões internas

Fato é que, infelizmente, em algumas empresas existe um abismo entre o mundo das aspirações (e até mesmo da regulação) e o mundo real, onde o ato de alarme e relato dos colaboradores não é bem visto, quando as interferências que podem afetar na qualidade dos produtos são provocadas por descaso, omissão e até mesmo ação indevida dos próprios supervisores. Isto, em nome de argumentos como, por exemplo, o atendimento a vendas, o aumento da produtividade e o bater das metas; isto em detrimento das questões da qualidade. Assim é em Marte, Saturno e Vênus…

Em situações assim, existe o medo de represálias provocadas pelas chefias as quais podem literalmente infernizar a vida do funcionário. Existe o medo até de demissão… E nós sabemos que pressões desse tipo podem calar as pessoas.

Cabe a pergunta: Como os colaboradores inconformados com decisões que podem colocar em risco a qualidade de um produto, a reputação da empresa ou até mesmo a saúde do consumidor podem alertar para o risco ou até mesmo para um evento não conforme, sem sofrerem com suas atitudes proativas?

Não são poucas as vezes que muitos colaboradores chegam até certos profissionais da empresa (como aqueles da área da qualidade), de uma forma discreta e com um comportamento de temor, para relatar situações desse tipo. Acontece em auditorias, em treinamentos e até mesmo em situações informais como almoços e intervalos para o café na empresa. Têm esse comportamento com o intuito de poder contar com parceiros de confiança para se tentar evitar o mal maior.

As práticas condenadas

Pudéssemos nós mergulhar em um “mundo de fantasias” e elucubrar casos, apenas para dar cores fortes a quadros desse tipo, poderíamos dizer que mensagens dos colaboradores podem chegar alertando para o fato de que a liderança não usa luvas ou máscaras descartáveis em lugares nos quais tais acessórios de higiene são exigidos; as lideranças falseiam relatórios analíticos ou que matérias-primas vencidas podem vir a ser usadas (e assim já estão destinadas para esse fim) em lotes futuros.

Cenário irreal? É pelo menos um parágrafo de literatura de ficção que nos estimula a refletir sobre a gama de possibilidades as quais podem criar cenários de alto risco para a imagem da empresa e para o bem-estar e à saúde do consumidor.

A história de possibilidades de riscos mostra uma série de posturas perigosas já constatadas em muitas empresas, dos mais variados segmentos. Aí, se agrupam as atitudes impróprias de suborno e corrupção, se agrupam aquelas posturas que violam as normativas técnicas, bem como aquelas que violam o Código de conduta, entre outras.

O modelo do “Speak Up”

A instituição do mecanismo de “speak up” pode ajudar as empresas a receber os relatos dos colaboradores, ao mesmo tempo em que pode assegurar a eles um ambiente seguro para tais comunicações, sem qualquer risco de represália. Muitas empresas no mundo já adotam o “speak up”, entre elas as indústrias farmacêuticas. No Brasil já existem algumas, inclusive farmacêuticas também.

Convenhamos que tal preocupação poderia ser considerada como desnecessária, caso os ambientes corporativos fossem literalmente impregnados por atitudes pautadas na ética e, ao mesmo tempo, em uma moral expressa à luz dos cuidados com os consumidores e com a reputação da companhia.

Assim seja!

Fato é que, enquanto os ambientes não forem plenamente favoráveis para as Boas Práticas, o “Speak Up” será imprescindível para as empresas que prezam suas imagens e seus clientes. Assim seja!

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